Wednesday 20 June 2007

"Não te tinha dito até agora, não porque não te amasse mas porque ignorava porque razão te amava. Agora já sei (...) Não te amo nem pela tua cara, nem pelos teus anos, nem pelas tuas palavras nem pelas tuas intenções.
Amo-te porque és feito de boa cepa"
murmura Avellaneda a Martín, seu amor
[nunca ninguém lhe tinha dedicado um juízo tão comovente, tão simples, tão vivificante]

Monday 18 June 2007

branco

Eu sabia que isto ía ser uma conversa difícil, ele diz. Se calhar não era desta conversa que estavas à espera. Ela pensa talvez, sim, talvez fosse o medo desta conversa que lhe amarrou nesse fim de dia um nó gigante no estômago, uma tristeza inqualificável que ele percebeu como ‘zangada’. Esta era a conversa por detrás da fuga dele, dos nãos dele, de todas as coisas da vida dele, à frente dela.
Isto faz-se a dois, acrescenta. Sim, ela só consegue anuir, que o nó agora na garganta, as mãos vazias, e ...
[branco]
o nome próprio, apenas isso, sem adjectivos, sem querida, os tempos verbais a recuar, quando te amei, o quanto te amava e ela sem perceber como se aprende a falar tão depressa no passado, pretérito perfeito, imperfeito. Ela, infantil, a querer aprender com ele. Ela…
[branco]
Uma árvore no meio de uma sala. Sim, compreende a imagem. O desconforto, o despropósito de uma árvore, mesmo que bela, uma aberração, se no meio da sala. Percebe o machado, incisivo, a desferir-lhe golpes mortais. Percebe, mesmo esvaindo-se, percebe.
[branco]
Um reviver de memórias corta-lhe o branco em pedacinhos, enche-o de cor, e ela procura alguma cor mais forte que destoe, que lhe arranque a vontade enraizada de o querer para sempre com ela (ela sabe que estão, hoje, no tempo errado. ela sabe isso). Há-de haver alguma coisa, uma cor que…eu sou um gajo complicado, ele a tentar ajudar. A metáfora pobre da matemática, dela, exercícios simples e complexos, mas ela a perceber que ele não a percebe, que ela não é boa em metáforas e ele nunca há-de perceber o que ela lhe quer dizer…
[branco]
Não vejo em ti um poço de virtudes, ela sem jeito a tentar explicar que não cega de paixão. Não: ela sabe-o complicado. Ela conhece-o de perto. Ela gosta dele assim. E sem conseguir dizer-lhe o quanto sente por eles, o quanto lhe dói que não existam, não assim, mas uma outra vida.
[branco]
O tempo todo ele um som, tacto frágil, imagem turva enevoada. Agonizada, equilibra um olhar no dele, sentindo os últimos golpes: Um homem desfeito, pela vida; pior: por ela. És muito mais infeliz comigo do que sem mim. Sim, agora dele, ela soltando desculpas, folhas caídas no chão, a murchar por sabê-lo infeliz.
Sem raízes, sem ramos nem folhas, ela já um tronco sem vida caindo, por fim, na noite.
[branco]

Saturday 2 June 2007

água fria na ribeira

Hoje fui trabalhar. Isto se considerarmos que num dia como o de hoje, calorento e soalheiro, uma descida de rio é trabalho. Ainda assim, uma (boa) alternativa às obrigações (e direitos) familiares. Uma canoa, uma fuga. Do trabalho, esse de equipa, uma total trapalhada. 7 Km's numa tentativa esforçada de um, dois, três, direita, um dois três, esquerda, mas eram mais as voltas que o rio, e a 360º, a perspectiva que temos, apesar de bela e frondosa, é que... não saímos do lugar! A meio da descida, vencidas pelo cansaço, decidimos enturmar com as margens. Um boa tarde! vivo e sincero àquele bando de mulheres que descalças à sombra distraem o calor com as coscuvilhices da semana. Acenos para ajudar, remos no ar. Boa tarde meninas! era a Maria das Dores, a tia Gracinda, as Laurinhas e as amigas. Em menos de nada, uma voz colectiva aponta-nos o sentido da marcha: água fria na ribeira... (nós): água fria que o sol... palmas, risos, mulheres. Um dia de intenso trabalho.