Friday 21 December 2007

O meu Post de Natal*

Gosto quando o meu filho se escarrancha ao meu colo e me cola o hálito de menino à cara. Quando me olha com aqueles olhos-coruja, me espreita a alma. Como se apaixona por mim, ao meu colo. 'És linda, mãe', e eu vou cedendo os músculos, o stress dos dias e todo o castanho que tinha cá dentro. Eu vou esquecendo que existo, que sou mais do que a mãozinha dele quente e suada junto à minha, seca, gelada. Perco a voz, foge-me o Português e as palavras são presas na garganta por um fiozinho mágico, de prilimpimpim. E ele, malandro, a enfeitiçar-me com o narizinho redondo, a sopinha de massa, a cantilena que espalha a paz pelo mundo, por todos nós. Diz-me que eu sou uma rosa e abraça-me o coração, com uma ternura que só dele, e eu a querer rir, mas o riso a chorar, porquê uma rosa, e agora rio porque me lembro dos espinhos, que tenho e magoam (!) e ele, meloso, a completar: 'És mais bonita que um brilhante'. Eu a perder o solo e a voar, a gravitar no céu onde as estrelas brilham, para mim e para o meu filho, apaixonado por mim, ao meu colo.

[*é das crianças]

Monday 10 December 2007

Let me be (your) woman

Deixa-me olhar-te. Sim, isso, só pelo cantinho do olho, eu prometo, nada de olhares indiscretos, que te cobicem no fundo dos meus olhos. E cheirar-te, posso, também? Vá lá, só um bocadinho. Nem precisas chegar-me o pescoço; deixa-me só deslizar o olfacto distraído pelo teu cadeirão de pele, enquanto de olhos fechados passeio contigo em Veneza. Deixa-me tocar-te, ligeirinha, como quem joga ao Mikado. Como quem não quer perder, mas tão ao de leve, vais ver que nem dás por mim. E chamar-te, deixas? não um grito, como se do outro lado da linha, mas cantarolar-te, só para mim, um Cinema Paradiso do Ennio Morricone. Deixa-me dizer-te que és querido, meu querido, um sussuro inaudível.

Deixa que nos meus lábios sejas tudo o que não me podes ser na vida. Deixas?