Um dia...
... qualquer dia, neste dia, havemos de estar juntos, Q.
Um esboço, um rabisco, um risco, apenas isso. Sem expectativas nem pretensões, uma tentativa de me escrever com este pedaço de carvão afiado pela vida.
Sabes bem que mais do que palavras soltas, somos um romance por acabar, uma narrativa tão bela que doi a cada metáfora, a cada eufemismo que tentas para nos suavizar. Nesta escrita a duas mãos, imprimimos diferentes ritmos às nossas páginas, e baralhamo-nos, tu, e eu, sem saber quando avançar, recuar, rasurar aquilo que um de nós, algures, escrevinhou. Não sei ao certo onde começamos, que capítulos pelo meio, como acabamos. Leio-nos em dias tristes, bons lugares para ler um livro, esforçando-me para compreender a nossa prosa, mas perco-me, às páginas tantas. Dizes-me: Quem disse que literatura é fácil? e ainda mais um romance, e de cordel, de fazer chorar as pedrinhas da calçada? Digo-te que difícil isto, apanhar o fio à meada, peço-te que voltes comigo lá atrás (não tenhas medo de lá voltar), algumas páginas, ou mesmo alguns capítulos, e segue comigo. Só então seremos capazes de ler o que já escrevemos de nós, que apesar de parecer pouco é tanto, uma vida. Não sei em que página ao certo, mas sinto falta de ser linda, de ser tua, de ser feliz, onde fazias questão que eu soubesse o quanto me querias. Não sei em que capítulo, mas queria o meu cabelo molhado a acariciar-te os ombros adormecidos, embevecidos, numa manhã invernosa, os teus beijos cravados a fogo na minha pele. Não sei onde, mas as nossas mãos juntas, a escrever, a atravessar ruas, a atravessar vidas, mas juntas. Não sei de palavras que escrevam esta saudade, páginas que guardem este amor poético, amparem a minha alma que explode nas palmas das mãos. Perdida, não sei de nada, apenas que não te posso deixar escrever sozinho, meu amor, porque tu também te perdes, e porque sem as tuas, as minhas palavras não fazem qualquer sentido. Sozinhas, hieroglifos sumidos num mundo de papel.
Posted by J. at 11:33 0 comments