Monday 18 February 2008

Terei esquecido alguma coisa...?

Oh José, tu não vês que agora eu não posso, que a panela ao lume, e ai, não me puxes assim pelo avental que as mãos ainda do refogado, e ai, José, espera, que eu nem pus as cuecas que gostas, as de renda que comprei na feira lá no Redondo, as azuis, e estou toda descomposta e tu hoje até fizeste a barba, e anda, deixa-me pôr ao menos um pouco de perfume, e já não, espera, que assim fico com o rabo frio no mármore da bancada e olha, homem, tu já pagaste a luz? que ando há dois dias nisto e nem ver a novela posso, e ai isso, José, isso é bom, mas a Alzira já me perguntou se a rapariga sempre fugiu com o outro e eu nem sabia o que responder, uma vergonha, José. Anda, homem, não te zangues, eu sei que é chato pagar contas, posso lá ir eu, se ficares tu a limpar os pêlos que deixas na banheira e as juntas de azulejos com o amoníaco, que aquilo que me faz tão mal, José, mal consigo respirar. Humm, eu sei, tu gostas de me ver de rabo para o ar a esfregar, mas nem as unhas posso pintar e depois tu olhas para as outras, e eu nem com o nacarado que a Nélia me trouxe do Brasil, que a lixívia o leva e aquilo foi tão caro, José. Isso, agarra-me por trás que eu gosto, dá-me beijos nas orelhas, não metas a língua homem, que bruto! Abraça-me de mansinho, sussurra-me diminutivos, não palavrões (!) e vai mais devagar, sabes que gosto assim, porque mo perguntas homem, claro que eu gosto, ai, porque gosto tanto de ti, homem, ai, ai, José, para quê a pressa? está bem, vai lá; vai que foi golo e eu tenho o tempero e a panela ao lume…

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