Sunday 24 February 2008

Sopa de Feijão à Moda do Pai

Nunca ligou muito a este dia. Nós sim. Nós ligavamos mas hoje, hoje é um dia que não existiu, que não existe mais, sem ele. Hoje faria mais um ano, e iriamos estar todos juntos, à sua volta, enquanto ele preparava a sua famosa sopa de feijão. Puxavamos os bancos da cozinha e íamos-lhe contando os nossos dias. Sempre gostou mais de ouvir do que falar, e nós adoravamos que ele nos ouvisse. Enquanto escolhia as melhores batatas, íamos falando das notas, dos testes, dos preparativos para o sarau de acrobática; O feijão (sempre encarnado), testemunhava as discussões com amigas, depois com o namorado; O caldo knorr (se julgava que não via, que eu não sabia do seu truque!), juntava-se mais tarde, e nós iamos crescendo, eram já problemas com chefes, novos colegas, clientes...
Não voltei a comer sopa de feijão; Deixou de ter aquele sabor, não o do knorr, mas o toque especial que só ele lhe dava, com o seu carinho, o morno das suas mãos, o seu amor.
Guardo-a em mim como guardo a sua voz, o seu cheiro, o seu beijo.
O beijo que é na minha testa desde o último dia em que o vi.

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